A primeira vez que meus olhos
Se viram no seu olhar..."
Punta Cana |
Fora a poesia, essa música do Roupa Nova, muito pertinente ao que eu senti ao ver o mar da República Dominicana, me fez lembrar de uma outra viagem, quando era pequena, com minha família no carro indo pro Guarujá.
Por que? Bom, porque a Maria, nossa empregada doméstica, que, pasmem, vindo de Alagoas nunca tinha visto o mar, estava conosco no banco de traz.
E aí?
E aí que a Maria morrendo de enjôo quando viajava de carro, pegou sutilmente sua bolsa, e ficou lá no canto dela, que era, graças aos céus, na janelinha oposta à minha, tipo... virando pelo avesso.
Até hoje penso com MUITA simpatia na minha irmã, coitadinha, que estava do lado da dita cuja. Porque mesmo esmagando meu irmão entre nós duas pra se afastar dos odores e sons bizarros, obviamente, com quatro pessoas no banco de trás, alguém tinha que estar, não?
Tudo isso pra dizer que deve ter sido uma imensa emoção pra Maria e ainda me lembro da cara de espanto dela quando viu a imensidão, não tão azul do mar do Guarujá.
Eu só consigo imaginar essa emoção porque mesmo tendo visto o mar desde sempre, quando cheguei no playground do Jack Sparrow, tive vontade de virar areia, ou sereia, e ficar por lá, de frente pra água, enterrando os dedos do pé nos grãozinhos quentes.
E eu que sonhava com esse mar, antes de vê-lo, antes de por os meus pés na areia branca, antes de ver os coqueiros dançarem ao vento...
Pensei que era coisa da minha imaginação, constantemente alimentada por uma arte visualmente rica em cores.
Pois minha imaginação ficou sem palavras, sem ação, até se escondeu (coisa rara!) atrás dos meus olhos, porque o que eles viram superou todas as expectativas.
"Não tive a intenção
De me apaixonar
Mera distração
E já era o momento de se gostar
Quando eu dei por mim
Nem tentei fugir
Do visgo que me prendeu
Dentro do seu olhar"
E nesse lugar cheio de energia quase palpável, descobri uma noite, no restaurante do hotel, a arte étnica e mágica de Aida Ramirez. Mágica porque dá vontade de mergulhar nos olhos de suas pinturas. Enormes, as pinturas e os olhos, me atraíram como um imã. Fiquei lá, olhando e sendo olhada porque os olhos cheios de vida me espiavam curiosos de dentro da tela...
"Quando eu mergulhei
No azul do mar
Sabia que era amor
E vinha pra ficar
Daria prá pintar todo azul do céu
Dava prá encher o universo da vida
Que eu quis prá mim
Tudo que eu fiz
Foi me confessar
Escravo do teu amor,
Livre para amar
Quando eu mergulhei
Fundo nesse olhar
Fui dono do mar azul
De todo azul do mar"
"Foi assim como ver o mar
Foi a primeira vez que eu vi o mar
Onda azul, todo azul do mar
Daria pra beber todo azul do mar
Foi quando eu mergulhei no azul do mar"
E a luz do mar do Caribe queimou meus olhos, pra sempre. E agora eu preciso voltar...